Caros, radionautas,
em 29 de janeiro de 2012, o excelente jornalista esportivo, Roberto Porto, publicou no seu blog Direto da Redação, uma crônica sobre o quanto o meio tão querido mudou a vida dele: O RÁDIO ESPORTIVO. Boa Leitura a todos.
Um abraço,
Isabela Guedes
blogdoradiocarioca@gmail.com
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O rádio esportivo mudou minha vida
Por: Roberto Porto
"Rio - Sempre gostei do rádio. Hoje, desconfio
(vejam que utilizei o verbo desconfiar) que foi minha paixão pelo rádio,
desde garoto, que me levou ao jornalismo esportivo, aplicando um
pontapé na carreira de advogado. Minha mais remota lembrança do rádio
esportivo é de meu pai – este sim um advogado vitorioso – tentando
sintonizar, em Laranjeiras, onde morávamos, uma partida de futebol numa
tarde de domingo. Hoje, por dever de ofício, sei que ele lutava para
escutar, em ondas curtas, um jogo Argentina x Brasil, no Campeonato
Sul-Americano de 1946, em Buenos Aires, partida que o Brasil me fez o
favor de perder de 2 a 0.
Daí em diante, o rádio passou a fazer parte de minha vida de garoto.
Escutei alguns jogos de 1948 – Botafogo campeão carioca – e em 1950
acompanhei toda a maldita Copa do Mundo com um rádio moderno comprado
por meu pai, Nélson Porto. Aliás, só não ouvi Brasil x Iugoslávia porque
ele me levou ao lotado Maracanã. Aí não houve jeito: passei a ser
ouvinte assíduo de ‘No Mundo da Bola’, apresentado diariamente à tarde
por Antônio Cordeiro na Rádio Nacional. Chovesse ou não chovesse,
tivesse que estudar ou não, lá estava eu escutando Antônio Cordeiro.
Além de Cordeiro, passei a conhecer e reconhecer as vozes de Jorge
Cury, Sérgio Paiva, Jorge de Souza, Luís Alberto (comentarista) e Valdir
Amaral, entre outros. Mas não abandonava os outros, como Ary Barroso,
José Maria Scassa (comentarista), Doalcey Bueno de Camargo e Benjamim
Wright (comentarista), pai do hoje também comentarista José Roberto
Wright. Cheguei ao exagero de reconhecer, pelo estilo, César de Alencar,
que ficava atrás do gol. César, por sinal, de tão agradecido que ficou,
ao ouvir seu nome em um programa criado por mim, na Rádio Nacional, fez
questão de me conhecer pessoalmente quando andei por lá na década de
80.
Por isso, não vacilei quando recebi um convite, em 1981, para
integrar a equipe de José Carlos Araújo na Rádio Nacional, na Praça
Mauá. Fiquei conhecendo pessoalmente um monte de gente que só conhecia
pela voz, como o próprio José Carlos, Washington Rodrigues, Deni
Menezes, José Cabral, Luiz Mendes, Maurício ‘Danadinho’ Menezes e um
bando de repórteres. Da Nacional, apesar do gosto pelo rádio, saí para
trabalhar com José Inácio Werneck, no Jornal do Brasil, mas acabei
voltando, já que José Carlos Araújo havia ido para a Globo e deixara
mais espaço na Nacional, já sob o comando de Teixeira Heizer e Doalcey
Camargo.
Da Nacional – que mora no meu coração, assim como o Jornal do Brasil –
passei para a Rádio Tupi, na Rua do Livramento, a convite de Luiz
Penido. Como na Nacional, sempre trabalhei como comentarista de jogos e
de um programa noturno apresentado por Luiz Ribeiro. E foi lá na Tupi
que inventei a história do suicídio de um porco e quase tirei a emissora
do ar. Infelizmente, não por causa do suposto suicídio do porco, não
demorei muito na Tupi. Mas logo estava na Rádio Globo para trabalhar com
o verdadeiro fenômeno que era Haroldo de Andrade. De ruim, só tinha o
horário: chegava à rádio às cinco horas da manhã e saía meio-dia.
Mas na Rádio Globo – que me deu um tratamento todo especial – não
fazia esportes. Com a morte do escritor Hélio Thys, fui encarregado de
escrever diariamente o famoso ‘Bom Dia de Haroldo de Andrade’.
Teoricamente, eu deveria reescrever as cartas que chegavam à nossa
pequena redação, mas isso não ocorreu. As cartas eram ruins e mal
escritas. Qual foi a solução? Passei, eu mesmo, a escrever as tais
cartas, e ainda me dava ao luxo de, no final, dar o conselho ponderado
de Haroldo de Andrade aos ‘ouvintes’ aflitos com os problemas que
viviam.
Mas Haroldo – fantástica figura humana – rompeu contrato com a Globo e
tive que sair, juntamente com Márcio de Souza e Wilson Silva (excelente
repórter). Como me mudei para a Barra da Tijuca, ingressei na Rádio
Melodia, evangélica, a convite de Wilson Silva. Na Melodia, diga-se de
passagem, não tinha a liberdade que gozava na Globo. O ‘Bom Dia da
Melodia’, que ficava sete minutos no ar, passava pelas mãos de um
pastor. E eu não podia falar em sexo, traições de mulheres e maridos,
etc e tal. Saí pela tangente e criei demônios e tinhosos que tentavam os
ouvintes a cometerem pecados. E foi um sucesso. Pena que o dono da
Melodia envolveu-se numa negócio ilícito e tive que sair, sem que o
pastor vetasse uma única e escassa ‘história’ que eu inventava em casa e
mandava pela internet.
Esta é a minha história no rádio e da qual sinto saudades até hoje."
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